terça-feira, 21 de outubro de 2008

Noite de saudade


Última foto de FLorbela

A noite vem pousando devagar
Sobre a Terra que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor, que é cheia de tortura...
E eu oiço a noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!

Porque és assim tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!

Flor Bela de Alma da Conceição Espanca, conhecida como Florbela Espanca, poetisa portuguesa que viveu no século passada, seu pai só confirmou a paternidade anos após sua morte. Em Lisboa concluiu o curso de letras e logo após ingressou no curso de Direito, sendo a primeira mulher a ingressar nesta universidade.

Teve uma vida muito conturbada, o grande amor de sua vida era seu irmão, com quem alguns estudiosos afirmam que se consolidou, mas em suas poesias ela demonstra mais de forma platônica.

Após saber que estava com edema pulmonar, Florbela tentou se matar duas vezes, porém, em 8 de dezembro de 1930, dia de seu aniversário, ela reuniu todos os seus amigos em casa para um jantar e quando todos estavam festejando, ela subiu e tomou uma dose cavalar de veronal, e morreu enquanto todos os festejavam a sua vida...

Para mim, suas poesias e seus livros são de um contexto profundo, todas as suas poesias, tem alma, grande parte, ou melhor, quase todas, são muito tristes, o que se compara a segunda geração do romantismo poético brasileiro que foi marcado pela dor de morrer cedo, devido a boemia.

Mas suas poesias tristes são explicadas pelo simples fato de não poder ter a única coisa que almejava...seu amor. Amor, este que ela idealizou e tirou sua vida por tal, mas deixou-me o exemplo, não de pessoa sem amor-próprio, mas de pessoa capaz de amar incondicionalmente e tentar pelo menos em palavras mostrar a seu amado a dor e tristeza de não tê-lo para si.

Findo-me com sua frase: A lembrança dos teus beijos / Inda na minh'alma existe, / Como um perfume perdido, / Nas folhas dum livro triste.”

Nenhum comentário: