sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Inferno Nacional

Diz que uma vez um camarada que abotoou o paletó. Em vida o falecido foi muito dado à falcatrua, chegou a ser candidato a vereador pelo PTB, foi diretor de instituto de previdência, foi amigo do Tenório, enfim... ao morrer nem conversou: foi direto ao Inferno. Em chegando lá, pediu audiência a Satanás e perguntou:
- Qual é o lance aqui? Satanás explicou que o inferno estava dividido em diversos departamentos, cada um administrado por um país, mas o falecido não precisava ficar no departamento administrado pelo seu país de origem. Podia ficar no departamento do país quer escolhesse. Ele agradeceu muito e disse a Satanás que ia dar uma voltinha para escolher o seu departamento.
Está claro que saiu do gabinete do Diabo e foi logo para o departamento dos Estados Unidos, achando que lá devia ser mais organizado o inferninho que lhe caberia para toda a eternidade. Entrou no departamentodos Estados Unidos e perguntou como era o regime ali.
- Quinhentas chibatadas pela manhã, depois passar duas horas num forno de duzentos graus. Na parte da tarde: ficar numa geladeira de cem graus abaixo de zero até as três horas, e voltar ao forno de duzentos graus.
O falecido ficou besta e tratou de cair fora, em busca de um departamento menos rigoroso. Esteve no da Rússia, no do Japão, no da França, mas era tudo a mesma coisa. Foi aí que lhe informaram que tudo era igual: a divisão em departamento era apenas para facilitar o serviço no Inferno, mas em todo lugar o regime era o mesmo: quinhentas chibatadas pela manhã, forno de duzentos graus durante o dia e geladeira de cem graus abaixo de zero, pela tarde.
O falecido já caminhada desconsolado por uma rua infernal, quando viu um departamento escrito na porta: Brasil. E notou que a fila à entrada era maior do que a dos outros departamentos. Pensou com suas chaminhas: "Aqui tem peixe por debaixo do angu". Entrou na fila e começou a chatear o camarada da frente, perguntando por que a fila era maior e os enfileirados menos tristes. O camarada da frente fingia que não ouvia, mas ele tanto insistiu que o outro, com medo de chamarem atenção, disse baixinho:
- Fica na moita, e não espalha não. O forno daqui está quebrado e a geladeira anda meio enguiçada. Não dá mais de trinta e cinco graus por dia.
- E as quinhentas chibatadas? - perguntou o falecido.
- Ah... O sujeito desse serviço vem aqui de manhã, assina o ponto e cai fora.



" A vida é assim, cada um tem o que merece, na sua devida proporção...e quem souber morre!"

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Sobre a Morte e o morrer...


O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de
um ser humano? O que e quem a define?


Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”

Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...”

Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.

Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.

Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.

Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?

Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.

Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".

Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.

Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.

Rubem Alves

domingo, 2 de novembro de 2008

Sunday...


Sunday Afternoon

It's a choice
To stay
It's a dream
And I wanna wake

You have blood on your hands
And I'm feeling faint
And honey
You can't decide

I'm a drug
You don't wanna give up
Smoke your cigarettes
Make your love


You poured blood in my heart

And I can't get enough
I'm drowning, drowning
And you can't decide

It's not about geography, or happenstance
You need to fly, & take a chance
You don't need to soar to emptiness
Float on high, & forever dance alone

Your scared, scared, scared
'Cause I feel like home

Hear your voice
Knew right away
If you were here
Your eyes would say

There is blood on my feet
As I'm walking away
Rivers are red
It's starting to rain

I'm not gonna live for you
Or die for you
Won't do anything anymore for you
'Cause you leave me here on the other side
You leave me here on the other side

Not gonna shed one more tear for you
Shed one more tear for you
I'm not gonna shed one more tear for you

At least not til sunday afternoon
Sunday afternoon

Leave or stay!!!

Musica de Rachael Yamagata, cantora da trilha sonora do filma Terapia do Amor.

Para começar bem o novembro belo, já nos preparativos para o mês
findouro do ano, onde todas as pessoas se voltam a introspecção
e repensam tudo que ocorreu no ano.


De sorte, sempre tem-se que pensar positivo, no mais....é deixar para lá!!!

Essa música foi uma poesia que ela havia descoberto em uma de
suas crises emocionais, e resolveu gravá-la, com todo o pesar do poeta...muito linda!!!


Por fim, fazendo jus ao nome do blog, não tive pressupostos para colocar
essa poesia, apenas me deu vontade.!!!


Leave or Stay????

Vocês decidem....

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Lembrando de esquecer


Estou perdendo aquelas lembranças nítidas do teu rosto alegre que me fazia sorrir sempre. Estão indo embora os sons da felicidade que nasciam nos abraços toda vez que chegava para me cansar de amor.

Já faz tempo que a saudade adoeceu. Ninguém consegue manter vivas e saudáveis as lembranças que foram machucadas sem piedade depois da despedida silenciosa numa cama fria.

Lembro-me que não tive coragem de te olhar nos olhos e depois, aquela vontade enorme de sair correndo , de fugir, de sumir, de dormir e nunca mais acordar.

Eu sabia, de há muito , que a estrada havia chegado ao fim justo onda havia uma placa: sem saída. Caminhamos tanto para chegar a lugar nenhum. Não estou arrependido, confesso, mas não posso esconder o gosto amargo de acordar de um sonho que aos poucos foi tornando-se em pesadelo.

Passei noites acordado, tentando escapar do pavor daquelas visões. Numa delas, assim, sem mais nem menos, descobri contando os dedos, falando sozinho, que havíamos chegado ao fim.

Nem pra frente, nem pra trás, as recordações já não surtiam o efeito conciliatório para o perdão.

Vi, dia a dia, o amor piorar, chorar, em silêncio e entrar em coma, mantido velado e em desgaste pelo respeito ao que tínhamos vividos juntos.

Assumi sozinho todas as culpas até começar a descobrir que tinha muitas razões. Sem coragem de arrancar velhas fotografias das molduras, guardei-as nas gavetas. Com esse gesto comecei a fazer meu caminho de volta. Fazer um caminho de volta pode parecer simples, mas não é.

Um caminho de volta a gente faz apagando imagens, palavras, sons, cores, cheiros, tudo. Um por um, passo a passo, sem pressa. Depois é esperar que a ferida cicatrize de vez e não olhar mais para a marca. Desde o início eu não podia esquecer que as emoções são como o vento: mudam de direção.

Não sei como, embriagado, fui esquecer disso, mas agora me pego lembrando que esqueci você.


By A. Capibaribe Neto....rsrsrsrsrsrs (como diz Clôtis)

sábado, 25 de outubro de 2008

A vida é o dever que nós trouxemos...

SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS

A VIDA É O DEVER QUE NÓS TROUXEMOS PARA FAZER EM CASA.
QUANDO SE VÊ, JÁ SÃO SEIS HORAS: HÁ TEMPO...
QUANDO SE VÊ, JÁ É SEXTA-FEIRA...
QUANDO SE VÊ, PASSARAM SESSENTA ANOS...
AGORA É TARDE DEMAIS PARA SER REPROVADO.
E SE ME DESSEM - UM DIA - UMA OUTRA OPORTUNIDADE,
EU NEM OLHAVA O RELÓGIO.
SEGUIA SEMPRE, SEMPRE EM FRENTE...

E IRIA JOGANDO PELO CAMINHO A CASCA DOURADA E INÚTIL DAS HORAS.

Mário Quintana

Tava sem um pingo de coragem de escrever algo próprio,
mas merece ser colocado uma das muitas poesias
de Mário Quintana...

E a pergunta é: Você também, vai esperar passar o tempo
e olhar para o relógio???


quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Closer...

TRAVIS - CLOSER

I've had enough of this parade

I'm thinking of the words to say
We open up unfinished parts
Broken up its so mellow

And when I see you
then I know it will be next to me
And when I need you
then I know you will be there with me
I'll never leave you

Just need to get closer, closer
Lean on me now
Lean on me now
closer, closer
Lean on me now
Lean on me now

Keep waking up without you here
Another day, another year
I seek the truth
We set apart
Sinking of a second chance

And when I see you
then I know it will be next to me
And when I need you
then I know you will be there with me
I'll never leave you
*E para quem quiser vê o vídeo com a legenda em português aí vai o
link: http://www.youtube.com/watch?v=JwkPn9yNLns

Amar-te...

Querer-te...

Desejar-te...

Ser completamente uno...

Rejeição...

Ser conscientizado que não posso...

Como é insuportável saber que tuas limitações me atingem
diretamente, saber que ao falar com tua razão destrói de forma avassaladora,
todos os pilares que eu na vã expectativa de ser feliz estavam construindo...

Minhas forças para reconstruí-los cada vezes mais
esgotadas...quero dá uma última cartada...não sei o que farei...

Preciso olhar-te nos olhos, nem que por um único momento e
por uma última vez, mas necessito te ver, só então poderei dizer tudo o que tenho
escrito e guardado só para mim...

Nieztche, dizia que há coisas que devemos contar só para os
amigos, outras que não devemos contar nem para os amigos, mas há também coisas
que não devemos contar nem para nós mesmo...isso não se aplica a mim

para com
você...


terça-feira, 21 de outubro de 2008

Noite de saudade


Última foto de FLorbela

A noite vem pousando devagar
Sobre a Terra que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor, que é cheia de tortura...
E eu oiço a noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!

Porque és assim tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!

Flor Bela de Alma da Conceição Espanca, conhecida como Florbela Espanca, poetisa portuguesa que viveu no século passada, seu pai só confirmou a paternidade anos após sua morte. Em Lisboa concluiu o curso de letras e logo após ingressou no curso de Direito, sendo a primeira mulher a ingressar nesta universidade.

Teve uma vida muito conturbada, o grande amor de sua vida era seu irmão, com quem alguns estudiosos afirmam que se consolidou, mas em suas poesias ela demonstra mais de forma platônica.

Após saber que estava com edema pulmonar, Florbela tentou se matar duas vezes, porém, em 8 de dezembro de 1930, dia de seu aniversário, ela reuniu todos os seus amigos em casa para um jantar e quando todos estavam festejando, ela subiu e tomou uma dose cavalar de veronal, e morreu enquanto todos os festejavam a sua vida...

Para mim, suas poesias e seus livros são de um contexto profundo, todas as suas poesias, tem alma, grande parte, ou melhor, quase todas, são muito tristes, o que se compara a segunda geração do romantismo poético brasileiro que foi marcado pela dor de morrer cedo, devido a boemia.

Mas suas poesias tristes são explicadas pelo simples fato de não poder ter a única coisa que almejava...seu amor. Amor, este que ela idealizou e tirou sua vida por tal, mas deixou-me o exemplo, não de pessoa sem amor-próprio, mas de pessoa capaz de amar incondicionalmente e tentar pelo menos em palavras mostrar a seu amado a dor e tristeza de não tê-lo para si.

Findo-me com sua frase: A lembrança dos teus beijos / Inda na minh'alma existe, / Como um perfume perdido, / Nas folhas dum livro triste.”